Tenho visto na web algumas discussões
sobre o ponto de vista da narração (foco narrativo). Algumas
pessoas defendem a narração em terceira pessoa, outras a em
primeira pessoa. Isso me fez lembrar de algumas atividades que fiz
nas minhas aulas de redação quando eu era adolescente, nas quais
era preciso escrever a mesma história sobre vários pontos de vista.
Toda vez que fazia este tipo de atividade, eu me entregava a várias
reflexões e sempre me questionava: qual é, de fato, a verdade sobre
a situação a ser narrada? O retorno destas indagações à minha
mente instigaram-me a emitir aqui a minha opinião de leitora e
escritora.
Para mim, toda e qualquer perspectiva
narrativa é incompleta. Não existe uma perspectiva completa, pois
toda ela é uma visão, até a do narrador em terceira pessoa. Em
minha vida de escritora, se for contabilizar toda a minha produção,
escrevi muito mais em terceira pessoa do que em primeira pessoa, mas
enxergo um ponto crítico na perspectiva em terceira pessoa.
O narrador em terceira pessoa observa
e/ou investiga o fato colhendo dados de diversos personagens, mas ele
é limitado por não nos permitir conhecer o íntimo dos personagens,
suas razões mais escusas e íntimas para agir, tomar decisões, etc.
Em narrativas de suspense, pode ser um recurso interessante; mas para
pessoas como eu que gostam de narrativas psicológicas e de entrar na
mente dos personagens, às vezes, é um pouco frustrante,
principalmente em romances. Até aqueles narradores em terceira
pessoa que entram um pouco no pensamento dos personagens não
conseguem fazê-lo muito profundamente; pois, na realidade, ninguém
lê os pensamentos e sentimentos de ninguém, ninguém entra na mente
de outra pessoa.
Muitas pessoas acham que a narrativa
em primeira pessoa é narcisista, auto-centrada, mas eu acho que esse
não é o principal defeito desse tipo de narrativa; aliás, acho que
esse defeito nem sempre existe. Na minha opinião, ele acontece se o
narrador-personagem for narcisista e isso depende de o autor querer
fazê-lo/compô-lo assim. Penso que a maior imperfeição da
narrativa em primeira pessoa é a sua perspectiva “viciada”, ou
seja, o leitor só conhece uma versão da história, aquela que o
autor quer apresentar. Todavia, ao contrário do que possa parecer,
hoje, eu tenho uma preferência pela narrativa em primeira pessoa
justamente pela possibilidade de entrar na cabeça do personagem,
conhecer intimamente seus sentimentos e conflitos.
Discussões à parte, o importante
mesmo é que o livro (independente do foco narrativo) esteja bem
escrito e que, ao lê-lo, o leitor sinta prazer e embrenhe-se na
história.
Se você concorda comigo, discorda ou
deseja comentar o que eu escrevi, deixe um comentário! <3
Diana Scarpine
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